segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Em cada duas casas brasileiras com água na torneira, apenas uma está ligada à rede de esgoto

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió 19/08/201306h00
Desde os anos 70, o país priorizou o acesso à água e desprezou o esgoto, diz pesquisador

A pesquisa "Saneamento Básico – Regulação 2013", lançada nesta segunda-feira (19) durante o 8º Congresso da Associação Brasileira das Agências de Regulação (Abar), em Fortaleza, aponta que apenas uma em cada duas unidades ligadas à rede de água encanada tem acesso a esgoto.


Municípios que têm controle sobre os serviços e água e esgoto               
2009
 883
2010
 853
2011
 1.896
2012
 2.296
2013
 2.716

Fonte: Abar         
Segundo o levantamento, 50,3% das ligações de abastecimento de água não são complementadas com serviço de esgoto. Os números levam em conta as cidades com regulação do serviço de saneamento --que corresponde a 48% dos municípios brasileiros. As grandes metrópoles estão inclusas nesse percentual.

"Desde os anos 70, o país priorizou o acesso à água e desprezou o esgoto. Com a água, várias doenças foram controladas, saímos da idade média. Mas esqueceram o esgoto, e ficamos mais de 20 anos sem investimento", disse o presidente do instituto Trata Brasil, Edson Carlos.

Segundo Carlos, a obra de esgoto deveria ser feita junto com a de água encanada, mas acabou sendo desconectada dos planos políticos ao longo dos anos. "Como é uma obra que população não cobra, que está enterrada, sem charme, os políticos ainda preferem outra ações. Isso vem mudando, mas em muitas cidades ainda não é priorizado."

Infraestrutura deficitária
Carlos informou que o Brasil tem grande carência do serviço, quando comparado a outros países. "20% [dos brasileiros] não têm água tratada, e menos da metade tem esgoto. Isso mostra quanto é deficitária essa infraestrutura. Muita empresa não cumpre o seu papel de levar rede água e esgoto a população", disse.

Além da falta de esgoto, a pesquisa mostrou que menos de 20% dos municípios brasileiros concluiu planos de saneamento e correm risco de ficarem sem recursos federais a partir do próximo ano. Segundo o levantamento, apenas 922 municípios do total que têm serviço regulado por agência já concluíram.

Sem pensar no custo
"O governo vai analisar em cima do planejamento para não gastar dinheiro sem ter efetivamente um resultado. É o plano que indica as prioridades", disse o presidente da Abar, José Luiz Lins dos Santos.

O professor de mestrado em gestão internacional da ESPM e sócio da Pezco Microanalysis, Frederico Turolla, afirmou que, além de poucos planos, muitos municípios fizeram projetos inexequíveis, visando apenas ao cumprimento da condicionante.

"O planejamento, onde existe, está vindo muito desconectado economicamente do serviço. Quando é para planejar, o pessoal quer tudo, e fica difícil de converter em realidade. Da forma como o processo está desenhado, com vantagens por se fazer o plano, faz-se sem pensar no custo."

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